A Facoemulsificação Além da Técnica
Parte I
A Técnica e a Tecnologia: como operar com segurança e precisão
- Aprimoramento dos Parâmetros do Facoemulsificador
- Infusão
- Aspiração
- Vácuo, Chattering e Surge
- Poder de Emulsificação
- Ações do Facoemulsificador versus Necessidade da Cirurgia
- Risco de Queimadura da Incisão
- Efeitos da Pressão Alta na Cavidade Vítrea
- A Fratura do Núcleo: a Etapa mais Importante da Facoemulsificação
- Técnicas de Fratura: Dividir e Conquistar; Stop and Chop; PhacoChop Horizontal/Vertical e Flip and Chip
- Como Fazer Sulco
- Como Fazer Chop
- Parâmetros do Facoemulsificador na Etapa da Fratura
- Ruptura da Cápsula Posterior
- Capsulorrexe
- Hidrodissecção
- Hidrodelineação
- Otimização das Substâncias Viscoelásticas
- Complicações Cirúrgicas durante o Aprendizado
- Como se Organizar para Aprender
- Estratégia para o Aprendizado Continuado
Parte II
O Ensino Além da Técnica
- Não Basta ser Bom Cirurgião para Ensinar a Operar
- Não Basta Ser Bom Residente para Aprender a Operar
- O Ensino da Cirurgia de Catarata no Brasil
- O Modelo de Ensino que Considero Ideal
Parte III
A Cirurgia Além da Técnica
- Óptica Cirúrgica: O Funcionamento do Sistema Visual e as Lentes Intraoculares Premium
- Avanços Tecnológicos e Limites da Fisiologia Humana
- Conflito de Interesses: a Ciência da Conveniência
- Terapia Medicamentosa
- O Paciente Cirúrgico Anticoagulado
- Deficiência Visual pode Causar Depressão
- Sucesso na Cirurgia e Satisfação com a Correção Óptica
- A Influência da Ética, da Moral e do Bom Senso na Indicação Cirúrgica
Parte IV
Cirurgia de Catarata: Uma Necessidade Social
- Porque Faltam Cirurgias para Ensinar Residentes?
- Viabilização do Centro Cirúrgico para Facoemulsificação
- A Tecnologia Apropriada para o Sistema Público de Saúde
Prefácio
O mundo “digital” oferece um excesso de informação, passando a errônea impressão de que sabemos muito. Contudo, a sabedoria é formada por conhecimento e não apenas por informação. A informação só se transforma em conhecimento quando é complementada por reflexão e prática.
No aprendizado da facoemulsificação acontece o mesmo, pois não faltam sugestões e exemplos “soltos” do que se deve fazer para obter melhor resultado cirúrgico. Mas aquelas considerações podem não ser suficientes para nortear efetivamente o aprendizado.
Para selecionar a informação pertinente e transformá-la em conhecimento efetivo, passível de ser incorporado à técnica cirúrgica, é necessário entender a cirurgia como um todo, que envolve o papel da tecnologia, o fundamento das manobras, o porquê das técnicas, a interpretação das reações do olho etc.
Neste livro, procuramos disponibilizar informações valiosas e ajudar a transformar, algumas delas, em conhecimento prático. Acreditamos que, ao direcionar a maneira como organizar as informações e como entender o contexto da cirurgia, o conhecimento possa ser construído. Este seria o primeiro passo para iniciar o aprendizado da facoemulsificação.
Contudo, a capacitação não termina no aprendizado, mesmo porque o aprendizado nunca acaba. O aprimoramento precisa ser contínuo, pois o mundo está em constante transformação, obrigando as pessoas a se atualizarem sistematicamente para acompanhar tais mudanças. Assim, não se tornariam obsoletas em seus conhecimentos e atitudes, o que lhes poderia custar suas próprias realizações. Um fator que vêm intensificando este cenário é a globalização da comunicação interpessoal, mediada pela internet.
Estima-se que a cada cinco anos, cerca de 50% do conhecimento médico, especialmente na área diagnóstica e terapêutica, seja renovado. A novidade é que agora, mais do que nunca na história da Medicina, o público leigo está consciente dos resultados e expectativas dos tratamentos em geral. Assim, o treinamento de novos cirurgiões e o aprimoramento daqueles já em prática, mantendo-se o elevado padrão de satisfação dos pacientes, é um grande desafio para o preparo de profissionais de sucesso.
Podemos inferir que, em vista da evolução exponencial da prática médica, o cirurgião que, após cinco anos, estiver realizando um determinado procedimento da mesma maneira, provavelmente terá uma diminuição de cerca de 50% de sua eficiência em relação ao profissional que se mantiver em constante aperfeiçoamento. Como a expectativa dos pacientes é cada vez maior, haverá um momento em que este cirurgião estará visivelmente defasado. Na Medicina, diferente do que no futebol, o correto é “mexer no time que está ganhando”, para que este continue a ganhar e não seja ultrapassado pela falta de acompanhamento do progresso.
Neste sentido, é preciso ter a percepção de como é importante sair da “zona de conforto”, para continuar a se aprimorar. Não basta aprender a operar e se tornar um bom cirurgião, é preciso continuar evoluindo sempre, para continuar mantendo a qualidade.
Em nossa experiência ensinando a arte da cirurgia, percebemos que o aperfeiçoamento na técnica da facoemulsificação envolve o conhecimento das forças mecânicas associadas às manobras cirúrgicas e o domínio do facoemulsificador, com seus parâmetros físicos e fluídicos. A correta programação e controle das funções do aparelho são fundamentais para a realização de uma cirurgia mais precisa e segura. A escolha criteriosa da técnica de fratura do núcleo, assim como a compreensão das manobras envolvidas em sua realização, é essencial para uma estratégia cirúrgica eficaz e reprodutível. Informações relativas aos movimentos e vetores envolvidos na capsulorrexe são de grande importância para o controle da excursão do flap capsular, assim como a utilização da substância viscoelástica adequada para cada etapa da cirurgia. A compreensão destes conceitos é importante para melhorar a performance durante o aprendizado e, posteriormente, aperfeiçoar a técnica cirúrgica, agregando precisão e segurança ao procedimento.
As etapas mais difíceis para o cirurgião iniciante (incisão e capsulorrexe), assim como as etapas mais difíceis para o cirurgião em fase mais avançada de treinamento (Fratura do núcleo e “Conquista” dos fragmentos) podem ser melhor aperfeiçoadas com o adequado conhecimento teórico dos princípios envolvidos nessas manobras, o que aprimoraria e tornaria mais seguro o treinamento.
Nesse cenário, considerando o processo de transmissão do saber, acreditamos que um Livro, assim como um Curso, conduzido pela mesma pessoa, impede a fragmentação da informação e se compromete com o todo, mantendo o foco no resultado final da construção do conhecimento.
Boa leitura.
Obs. O Capítulo 26: “Óptica Cirúrgica: O Funcionamento do Sistema Visual e as Lentes Intraoculares Premium” está imperdível!